Como ainda não
encerrou o período de chuvas no semiárido, não é possível confirmarmos
uma das menores pluviosidades das últimas décadas, particularmente onde
se convencionou chamar de Polígono das Secas. O fato é que a data
simbólica de São José passou e as chuvas vieram em pouca
quantidade. Segundo o INPE, deveríamos estar no auge de uma grande seca,
que se estenderia de 2006 a 2011. Parece que o período se estendeu, o
que agrava a situação. Os barreiros secaram, assim como os pequenos
açudes, as cisternas estão com pouca água, muitas sem água. Na Bahia 158
municípios podem entrar em emergência.
Se essa
situação acontecesse trinta anos atrás, como em 1982, já estaríamos
atravessando uma nova tragédia social no semiárido, com intensas
migrações, morte dos animais, mortalidade infantil, com necessidade das
famigeradas frentes de emergência, assim por diante. Hoje, com a
aposentadoria dos rurais, com as cisternas como depósito para pipas
(nesse momento não dá para escolher, desde que a água seja tratada), com
o Bolsa Família, com a chegada da energia nas comunidades, a situação é
grave, mas não é mais uma tragédia como viu a geração de Luis Gonzaga,
Graciliano Ramos, João Cabral, assim por diante.
Vão surgir
muitos questionamentos sobre as políticas adotadas para vencer essa
situação, como vão surgir novamente propostas miraculosas para “acabar
com a seca”. Nós, que temos desenvolvido a lógica da convivência com o
semiárido não estamos surpresos com esse momento. Sabemos que o
semiárido tem uma média de chuvas que varia entre 300 e 750 mm ao ano.
Há poucos anos em que há chuva excessiva. Há poucos com chuvas beirando
os 300 mm. Mas eles existem.
Portanto, o
grande segredo da convivência é a prevenção. A lógica de armazenar a
água de chuva nos períodos chuvosos para os períodos secos, a fenagem e a
silagem para os animais, a difusão e implantação de um leque poderoso
de tecnologias sociais que a sociedade e a Embrapa Semiárido já dominam,
a educação contextualizada das comunidades para entender melhor a
lógica da região na qual vivem, são as melhores soluções encontradas até
hoje.
Quando
a prevenção não é suficiente, é necessário recorrer às medidas de
emergência. Emergências acontecem em qualquer lugar do mundo. Não é
preciso fazer loucuras como as cisternas de plástico e obras como a
Transposição, já orçada em 8,2 bilhões de reais, dinheiro suficiente
para fazer 90% das adutoras previstas no Atlas do Nordeste.
Fonte: Avoz Online
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