quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Reportagem Especial:De Olho no Mercado Gourmet Excelente Noticia Para Xique-Xique-BA

"A noticia é Otima para a nossa cidade e nossa região como um todo "

Foto: João Castellano
De sarapuí (SP) para xique-xique (BA): Osta (à esq.) e Santos, criadores de dorper
O cordeiro de alta qualidade é a nova aposta de RubÉn Osta, presidente da Visa no Brasil. com dois sócios, o executivo montou um projeto inédito de R$ 100 milhões para suprir a demanda crescente de consumidores de alta renda.
Ela tem estatura elevada, pernas longas, cores diversificadas e, como nada é perfeito, o traseiro é pouco desenvolvido. Ele é menor, as pernas são mais curtas, suas cores podem ser apenas branca ou branca com a cabeça preta, mas o traseiro é avantajado. Apesar das diferenças na aparência das raças de ovinos santa inês e dorper, a mistura dos dois dá um bom resultado. É que seus filhos nascem mais encorpados, são abatidos precocemente e, por isso, produzem carne de qualidade. O produto considerado premium no mercado é cada vez mais procurado pelos paladares requintados das capitais brasileiras, especialmente de São Paulo. E, como quem casa quer casa, as raças já têm endereço certo para começar a vida a dois. A The Royal Sheep Farm of Xique-Xique, propriedade com 1,5 mil hectares, plantada no município baiano de Xique-Xique, à beira do rio São Francisco, vai abrigar, inicialmente, dez mil ovinos recém-casados. Pode parecer brincadeira, mas o assunto é sério. De olho no mercado gourmet para carne de cordeiro, o empresário argentino Rubén Osta, CEO da Visa no Brasil, e os paulistas Décio Ribeiro dos Santos, diretor do Agrocentro, e Ronaldo de Almeida, um dos donos do Centro de Exposições Imigrantes, estão colocando em prática um projeto pioneiro. Trata-se da produção industrial da carne de cordeiro em Xique-Xique para atender churrascarias e restaurantes requintados como o Fasano e o Rubaiyat, de São Paulo.

"ENTRAMOS NISSO PORQUE É UM BOM NEGÓCIO E PARA GANHAR DINHEIRO. O CONSUMO É CRESCENTE" Rubén Osta.


Foto: MAX G PINTO/AG . ISTOE
Em São Paulo: Robson Leite, dono do frigorífico Savana, vai comercializar a carne premium na capital.
Esse é um nicho de mercado promissor. Desde 2007, o consumo de carne ovina tem dobrado a cada dois anos nas principais capitais brasileiras, o que atraiu o trio de investidores. "Entramos nisso porque é um bom negócio e para ganhar dinheiro", afirma Osta. O empresário sabe do que está falando. Como executivo, Osta comanda uma bandeira de cartão de crédito que tem mais de 100 milhões de unidades no Brasil. No mundo, a Visa é líder no setor, com 1,9 bilhão de clientes, e os pagamentos com dinheiro de plástico são um termômetro do comportamento do consumidor. "Na ovinocultura, o País tem carência de produção e o consumo é crescente", diz Osta. Embora tímido no início, o projeto já nasceu preparado para se tornar grande em pouco tempo, com investimentos estimados em R$ 100 milhões até 2019. O primeiro módulo para a criação está sendo construído com infraestrutura, principalmente de irrigação, para receber, daqui a sete anos, 100 mil ovinos, dez vezes o plantel atual. Ao todo, foram investidos R$ 4 milhões na construção da primeira etapa, na compra da fazenda em Xique-Xique, que fica a 587 km de Salvador, e na aquisição de matrizes. Até a conclusão das obras dessa primeira fase, prevista ainda para o início deste ano, o desembolso deve chegar a R$ 10 milhões. Nos próximos meses, quando finalmente os animais desfrutarão da tão esperada lua de mel, eles serão distribuídos em 70 cabeças por hectare. Segundo Manoel Carlos Gonçalves Neto, veterinário e administrador da RHO Agropecuária, a empresa rural de Osta, a alimentação dos ovinos, na Bahia, será feita em sistema de pasto rotacionado, com engorda em semiconfinamento. Trata-se de um sistema semelhante ao empregado com bovinos, à base de gramínea tífton. Até o fim de 2012, a fazenda de Xique-Xique vai fornecer 250 ovinos ao recém-inaugurado frigorífico Frijoa, do pecuarista baiano Jaime Oliveira do Amor, na vizinha Muquém do São Francisco. Mais otimista, o dono do Frijoa aposta numa produção bem mais robusta. Para ele, a The Royal Sheep Farm of Xique-Xique deve fornecer pelo menos 1,5 mil animais por semana. Equivalente a 18 toneladas de carne, o volume representa um faturamento semanal de R$ 2 milhões, ou R$ 8 milhões por mês.




White Dorper: a raça promete melhorar a qualidade da carne do santa inês da Bahia

Com esses números dá para entender o entusiasmo de Osta e de seus sócios. "É um tiro mais que certeiro", diz Osta. Segundo ele, há um colossal abismo entre a procura e a oferta de carne ovina no Brasil: os 14 milhões de cabeças que formam o atual rebanho atendem apenas a 40% da demanda interna. O Estado de São Paulo, o principal mercado para esse tipo de carne, produz só 10% do que consome, ou seja, três quilos anuais per capita. "O restante do consumo é suprido pela produção do Nordeste e via importações, principalmente do Uruguai", diz. Levantamento de mercado do grupo frigorífico Savana, de São Paulo, especializado em cortes de carne de cordeiro, mostra que o consumo anual per capita da carne é de apenas 800 gramas, no Brasil. Esse volume, apesar de ainda incipiente, tem se mostrado mais que suficiente para causar movimentação no setor. Tanto que outros programas de integração, como o de Xique- Xique, têm estimulado a profissionalização de ovinocultores no Estado baiano. Uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento, Fundação Banco do Brasil, Sebrae e CUT, que integram o Projeto Nordeste na Bahia, vai investir R$ 25 milhões em recursos não reembolsáveis, na incorporação da cadeia produtiva de ovinocultura da Bahia e no Bioma Caatinga. O projeto também vai disponibilizar R$ 100 milhões em financiamento para o setor, até o fim deste ano. "Tudo o que for produzido lá será absorvido aqui", afirma Robson Leite, controlador do grupo Savana.

"A BAHIA SERÁ A NOVA ZELÂNDIA DO BRASIL, E QUEREMOS FAZER PARTE DESSE PROCESSO"



Segundo Leite, tamanha certeza em de sua própria carteira formada por três mil clientes. É que a produção das 300 mil matrizes, por seus fornecedores, dá conta de atender por mês apenas os 1,8 mil clientes ativos do grupo, com 180 toneladas de carne. Se os 1,2 mil clientes inativos resolvessem também adquirir o produto, no mínimo haveria uma forte pressão sobre a área industrial do frigorífico. "Só o mercado de gastronomia absorve 80% do meu produto", diz Leite. "O restante vai para o varejo."

Foto: MAX G PINTO/AG . ISTOE


Rubén Osta escolheu os sócios a dedo. Santos conhece de perto o potencial da ovinocultura baiana descrito até agora. O empresário percorreu 20 mil quilômetros Nordeste adentro, para chegar à conclusão de que o Brasil, especialmente a Bahia, pode crescer na produção de carne o quanto quiser. "Com 100 milhões de cabeças atenderíamos a nossa demanda e ainda ganharíamos mercado externo", diz ele. Sem contar que a Bahia é berço do maior rebanho da raça santa inês e do segundo maior rebanho nacional de ovinos, com mais de três milhões de cabeças. Só no Nordeste estão quase dez milhões de cabeças. Segundo Osta, além do potencial mercado para a carne de cordeiro, o acesso à genética de qualidade do dorper de São Paulo, as qualidades da raça santa inês, conhecida por sua capacidade de amamentação dos borregos, o clima perfeito do Nordeste e o conhecimento que o baiano tem para a criação também motivaram o investimento. Sem contar que a The Royal Sheep Farm of Xique- Xique está situada estrategicamente na região agrícola do oeste da Bahia, onde também há produção de grãos, complemento alimentar importante na fase de engorda dos animais. Com essa facilidade de acesso, os empresários ainda terão frete reduzido para o transporte dos grãos utilizados na ração dos ovinos. "A Bahia será a Nova Zelândia do Brasil, e queremos fazer parte desse processo", afirma Osta, numa referência aos neozelandeses, que possuem um rebanho de 45 milhões de ovinos e tradição no negócio.

Foto: João Castellano
Arquivo vivo: o veterinário Gonçalves Neto manipula a genética que vai para Xique-Xique
Para atingir a meta dos 100 mil animais, os sócios da fazenda de Xique-Xique vão disponibilizar machos e matrizes, que custam entre R$ 1,5 mil e R$ 50 mil. Na fazenda dos Jacarandás, em Sarapuí, a 150 quilômetros da capital paulista, onde funciona a RHO Agropecuária, o CEO da Visa possui uma base de 700 fêmeas, comercializando 150 animais em vendas diretas e leilões a cada ano. A RHO registra ainda uma média de 300 nascimentos por ano, inclusive por meio de receptoras, que se dedicam à produção de animais puros em barriga de aluguel, e uma seleção de quase mil animais entre dorper e white dorper, boa parte deles importada da Austrália e da África do Sul, berço da raça dorper. "Vamos levar essa genética para estimular uma forte produção integrada em Xique-Xique", diz Osta. Segundo o sócio Santos, o início dessa empreitada, com dez mil animais, envolve 200 famílias produtoras de médio e pequeno porte, em um raio de 150 quilômetros. A ideia é produzir animais precoces, com 32 quilos aos quatro meses de idade, para abate.


 projeto conta ainda com agrônomos especializados em pastagem, de São Paulo, e em irrigação, da Bahia. Com tudo pronto, do lado de dentro da porteira, os sócios ainda terão de enfrentar o maior desafio para atrair os criadores de ovinos de pequeno porte para a parceria: tirá-los da informalidade. Culturalmente na Bahia e no Nordeste, em geral, o "negócio" com ovinos é de subsistência e quase sempre à base de escambo. "Vi isso in loco", diz Santos. "Em Juazeiro, o criador leva dois animais. Um ele vende e o outro troca por algum produto que está precisando." De acordo com ele, o produtor da caatinga sabe o que está fazendo e o que precisa fazer para melhorar, mas não vai deixar de adquirir o seu próprio alimento para comprar sal para o animal. Na incursão pelas terras secas do Nordeste, Santos descobriu também que o consumo da carne de ovino não varia de acordo com o corte, como, por exemplo, no Estado de São Paulo. Lá não existe paleta, pernil, lombo e carré, entre outros cortes. "Os nordestinos abatem o animal, tiram a pele com a carne junto, semelhante a uma manta, ou um pelego com a carne", diz Santos. "Depois, eles dobram, e vão cortando pedaços." Esse produto, além do animal inteiro, é vendido nas feiras a R$ 10 o quilo, em média. Bem diferente do que acontece nos grandes centros, onde o produto é supervalorizado. "Qualquer restaurante de São Paulo tem pelo menos um prato de cordeiro, que é sempre o mais caro", afirma Osta, enquanto servia à equipe da DINHEIRO RURAL uma porção de quibe frito feito com cordeiro criado na fazenda dos Jacarandás. "São pratos individuais em torno de R$ 70 reais."
Foto: Joao Castellano  

Matéria : Blog Eng Pesca Xique

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